quarta-feira, agosto 31, 2005

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"Diamond Kiss"
by : Patrick Demarchilier

segunda-feira, agosto 29, 2005

Fojo

cai no Fojo o Lobo
caçado em batida
foge dos gritos e dos urros
das bestas no seu alcance....

cai no Fojo o Lobo....
fugiu-lhe debaixo
dos pés a audácia
não lhe ampara a queda
a fortuna

lapidado
paulado
encurralado
nestas paredes graníticas
o golpe de miséria
esfacela-lhe o crânio

jaz na terra
no chão
covardia dos carneiros que caçava

No planalto que é terra
o grito do falcão
é peregrino

Nas altas terras
no chão granito
humilha-se o Lobo
numa masmorra de pedra

O Fojo não morre
mata
o lobo
é sangue
tem a cabeça desfeita

Uivos não ecoam
são agora vermelhos e correm liquidos
nascentes
de fontes que molham
que sulcam
que corroem o fim dos gritos
exangue e sem vida
troféu da batida
alcateia na armadilha

sexta-feira, agosto 26, 2005

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by: Melanie Pullen

quinta-feira, agosto 25, 2005

Decalca

estou em branco
tenho o cérebro em branco
vazio e deserdado
a boca em branco de secura
os dedos em branco de teclas e escrita
tenho a vida em branco
parada de tantas partidas
tenho o humor em branco
porque não sabe parir no riso
uma paleta colorida
tenho a cara em branco
de pó,
de pasmo,
de expressão virgem

a manhã é branca e são brancos os passos
os caminhos são brancos,
as passadeiras são brancas
o despertar é branco e lívido

o teu cheiro é branco
e a tua roupa é negra...
o teu cabelo é ruivo
e a tua boca vermelha...
a tua pele é branca
gémea do teu cheiro
e no teu andar
no teu passar
no hiato do tempo
és mancha no branco,
és antítese do espaço
és nódoa de beleza...

quarta-feira, agosto 24, 2005

Por cima das palavras

Por cima das palavras
Desenho a curva da tua boca. Um sino.
Por cima das palavras já é dia.
A voz persegue o animal difícil
Que caminha o dia, a passo.

Esta parede de vidros enlouquece
Como uma selva. Uma paragem de autocarro.
Na tua mão a coragem é a arma necessária.
O amor são três lâmpadas. Os dedos principiam.

Joaquim Pessoa
in O Pássaro no Espelho

RESISTIR

Dobrar na boca o frio da espora
Calcar o passo sobre lume
Abrir o pão a golpes de machado
Soltar pelo flanco os cavalos do espanto
Fazer do corpo um barco e navegar a pedra
Regressar devagar ao corpo morno
Beber um outro vinho pisado por um astro
Possuir o fogo ruivo sob a própria casa
numa chama de flechas ao redor.

Joaquim Pessoa
in Paiol de Pólen

segunda-feira, agosto 22, 2005

inserena

Lamina fechada,
encerra a vontade
protege-se do corte
do primeiro contacto

Esta suja
demasiado suja
lavasse em banhos de sangue
não se gosta impura, brilhante e fria

O som do corte de vento
golpeia corpo
rouba alma

Paciente impaciente
fechada, impura lâmina suja
suja do pano branco de linho
que a tornou nua de vida
a vestiu de aço e tristeza
lhe tirou o púrpura...o pulsar...o armar....
o golpear....a essência de ser...

Impaciente paciente
comprende a escolha
encerra-se a lâmina
encerram-se as almas...

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Unknown

quinta-feira, agosto 11, 2005

Vapor

PARA
congela o momento
criogénio serve...

essa particula de relatividade
esse bombardear do núcleo

cogumelo vaporizador
onda de choque de energia
de destruição

procura no espaço infinitesimal
o primir vermelho do holocausto

sente-lhe o poder...
ele esconde-se por aqui.....procura
Esconde-se no que gostas e detestas
no que amas e odeias
no encanto e na angústia
na pele
no pensar
de mim de ti
de ti em mim
de mim em ti

Fácil não....

O criogénio funcionou?
Óptimo
O momento é então nosso...
explode com O Mundo...
que se foda.....

quarta-feira, agosto 10, 2005

O que fazer contigo

"(...)I found A thing to do, and all her hair
In one long yellow string I wound
Three times her little throat around,
And strangled her. No pain felt she;
I am quite sure she felt no pain. (...)"

by: Robert Browning
taken from "Porphyria's Lover"

terça-feira, agosto 09, 2005

"Beauty"

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by: Patrick Demarchelier
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quinta-feira, agosto 04, 2005

Faecem bibat qui vinum bibit

Quente a noite...
percorres-me com pontas de dedos
conquistas posição....

Aprisionas-me...
os meus pulsos cerrados
colocados atrás das costas
tentam lutar...
Estico os meus dedos e tento agarrar-te a pele
alcanço o teu abdómen e tento rasgá-lo

és mais forte...e mais vil te tornas
sinto os pulsos a estriar de tão apertado cerco

segues o sexo
segues o cheiro às cegas
sabes como entrar
sabes onde entrar

os meus cabelos
mais um instrumento na tortura
arrastados até ao limite
consegues-te mais profundo
e marcas-me com a totalidade de ti
em mim
a minha dor

não te chegam os gritos
a clemência
o meu rosto tem de exprimir

sobre as costas
e confortável
deitas-me

voz doce
vês-me e falas-me

a mão gigante
alcança o pescoço
aberta
no máximo da envergadura
a traqueia estrangula
o sangue rufa na carótida
barricado
o oxigénio suspende-se
o corpo entra em pânico

Luta
mais
mais

No limite do consciente
do absurdo
venho-me em gargalhadas
sem pudor
na tua cara

Na lingua que é morta
convido-vos em mim
"quem comeu a carne que roa os ossos"

quarta-feira, agosto 03, 2005

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by: Eva Muller

terça-feira, agosto 02, 2005

Castelejo

Altas horas da noite,
o Castelejo
Jubilava de música
de pessoas que dançavam....
de cerveja que corria a rodos gargantas abaixo
que enchia canecas acima

Dancei contigo e para ti....
subi para cima de bancos e mesas
para desespero dos nobres seguranças
levantava o vestido
colocava-me em bicos de pé...
qual bailarina em pontas
e ria-me do equilibrio precário
do alcool que me corria nas veias...
em alta velocidade e em grande quantidade

ver-te rir de mim e rir-te para mim
naquela noite inesperada
sem qualquer plano
sem qualquer preceito
Pude apreciar sem fim
o valor da liberdade e da vontade de sermos
apenas nós,
com nome e com vidas,
cruzadas
baralhadas
paralelas
aquelas que tiverem de ser....

tudo é perfeito
mesmo que no fim o imperfeito também aconteça
passear na praia
ver o dia acabar
começar a noite no alto da cidade
na muralha que a guarda
que nos rouba o respirar
a paisagem pintada de luzes que se extende por toda a vista
que se espelha no rio e
por todo o horizonte
ver as estrelas que fecham o céu no seu zénite

tu fechas a tua mão na minha
e caminhas a meu lado

e assim será...